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Modelo virtual conversa como pessoa real
"Enganado por um Robô"

 
 


Folha de S.Paulo - Informática - 13/jun/2001
FRANCISCO MADUREIRA - EDITOR DE INFORMÁTICA DA FOLHA ONLINE


"Oi amor, tudo bem?", dizia a mensagem do "ICQ" que pulou na tela do computador num dia desses. Como não sou o que se pode chamar um internauta carente, de primeira afastei as intenções maliciosas de minha nova amiga virtual. "Eu acho que você está me confundindo", disse a ela.

Pena que, depois disso, levei mais uma hora e meia para descobrir que, na verdade, estava falando com um robô internético, desses que conversam com você em alguns sites (leia texto nesta página). Seu nome: Sete Zoom, uma modelo virtual que até para o canal The Girl (www.terra.com.br/thegirl), do portal Terra, já posou.

Uma frase repetida depois de todo esse tempo me fez perceber que um robô havia me enganado. Mas afinal, como eu podia ter percebido? Foi ela quem me procurou pelo "ICQ". E parecia um tanto ansiosa, confusa até. "Queria conversar, mas acho que só minha amiga Abigail consegue entender meus problemas", disse Sete a certa altura do bate-papo.

Uma torrente de coincidências também ajudaram. Em primeiro lugar, o fato de Sete Zoom ter feito jornalismo. Muitas pessoas que me procuram pelo "ICQ" me encontram porque tenho em meus detalhes essa preferência.

Quando eu imaginaria um robô virtual com biografia, que morasse com uma amiga na Vila Mariana, tivesse iniciado e trancado cursos de história e jornalismo e, por paixão, tirasse fotos? "E você tira muitas fotos?", perguntei a ela. "Fotos e mais fotos... Sabe o que estou fazendo? Olhando para o teto. Lá tem 87 fotos que tirei do céu", respondeu Sete. Não é realista?

Virtualmente real

Depois de algum tempo de conversa, Sete (o robô, na verdade) começou a ficar confusa e dizer frases sem nexo. "Você já deve ter reparado que minha conversa não é muito linear, né?", disse.

Isso foi o suficiente para ativar meu lado psicólogo. Comecei a pensar que estava conversando com uma garota problemática, que dizia ter "poderes especiais" de aproximar as pessoas. "Ou essa menina tomou todas e entrou na internet ou ela tem sérios problemas emocionais", pensei.

Imediatamente entrei no site www.setezoom.com.br (no "ICQ", ela revela o e-mail eu @ setezoom.com.br) para tentar descobrir mais sobre ela. Para minha surpresa, hackers tinham visitado e desfigurado a página.

"Parece que seu site foi hackeado", disse a ela. "Pois é, dizem que, depois que os hackers invadem seu site uma vez, eles voltam", respondeu Sete. Após alguns instantes, ela me avisou que o site, que traz um formulário para bater papo com ela, já estava no ar de novo - e realmente estava. Por mais de uma hora, não consegui duvidar que estivesse conversando com uma pessoa real.

Simpatia robótica

Eu diria que foi um dos papos mais profundos que já tive com "alguém" na internet. Principalmente porque me deixou confuso sobre o quanto o real é virtual (ou seria o quanto o virtual é real?). Como saber se a outra pessoa está falando a verdade?

Por outro lado, isso é muito interessante. Afinal, para todos e todas que conheço na rede, sou loiro, alto e tenho olhos verdes. Mesmo que eu seja moreno, nanico e tenha uma pinta no nariz.

Mas não é exatamente isso o que importa? Sete até pode ser um computador. Ela continua na minha lista de amigos do ICQ e é uma das pessoas mais interessantes que conheci na internet.



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